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quarta-feira, agosto 31, 2011

Mão de obra com sotaque

O número de estrangeiros que desembarcam no Brasil para trabalhar está aumentando. Segundo o Ministério do Trabalho, somente no primeiro semestre deste ano, foram 26.545, frente aos 22.188 trabalhadores estrangeiros que chegaram ao País no mesmo período de 2010. Na dianteira da lista dos países que mais enviaram trabalhadores para o Brasil estão os Estados Unidos, seguido das Filipinas e Reino Unido.

Para Paulo Sérgio de Almeida, Coordenador Geral de Imigração e presidente do Conselho Nacional de Imigração (Cnig), o aumento é consequência do crescimento da economia do Brasil. “Em linhas gerais, reflete a pujança dos investimentos responsáveis pelo crescimento da economia brasileira. Empresas brasileiras vêm adquirindo máquinas, equipamentos e tecnologia no exterior e, com isso, necessitam da vinda de técnicos estrangeiros para a sua implementação. Além disso, novas empresas de capital estrangeiro que estão se estabelecendo no país, em geral, necessitam de profissionais estrangeiros para o início de suas operações”, disse Almeida, na divulgação dos resultados do primeiro trimestre deste ano.

Marcelo Hahn, CEO da Blau, indústria farmacêutica de capital 100% brasileira, revela que a empresa possui dois estrangeiros ocupando cargos de chefia, além de diversos outros funcionários nos cargos mais abaixo. Ele explica que o principal motivo para a contratação de estrangeiros é a falta de mão de obra qualificada no Brasil. “Em 2003, a empresa decidiu exportar e não queria perder tempo desenvolvendo um profissional. A busca foi por alguém com experiência, mas não encontramos esse perfil aqui”, diz.

Querer não é poder

Não basta apenas ter a vontade de se trabalhar no Brasil. Para conseguir o visto de trabalho no País é preciso cumprir formalidades, exigências e condições legais previstas no Estatuto do Estrangeiro. Jucélia Souza, diretora-executiva da Multiplic Vistos, empresa brasiliense que ajuda na transferência de profissionais estrangeiros para o Brasil, explica que o visto só é concedido quando não há mão de obra brasileira especializada para ocupar tal função.

Ela cita como exemplo a contratação de um professor de inglês. Se a escola interessada é de São Paulo, certamente o pedido será negado, já que existe no mercado mão de obra qualificada e especializada para exercer esta função. “Mas se a escola está no interior de Ceará e consegue comprovar que lá não existem profissionais aptos para exercer a função (americanos naturalizados ou brasileiros com formação), o pedido será aceito”, explica.

A diretora revela que, nos dez anos em que trabalhou no Conselho Nacional de Imigração, mais de 70% dos pedidos de liberação de visto de trabalho eram negados. “Quando há negativa, significa que não foram cumpridos os procedimentos específicos que a lei determina”, avalia.

O advogado trabalhista Rafael Oliveira Santos, da Meloni Advogados, em São Paulo, ressalta que há casos em que regras internacionais garantem ao trabalhador estrangeiro condições mais favoráveis do que as previstas pela lei brasileira, desde que não a ofenda. “A legislação nacional é considerada irrevogável por outras de caráter estrangeiro. Contudo, pode absorver algumas exceções, dependendo da linha de interpretação adotada em cada caso”, comenta.

Culturas diferentes

Mauro Hollo, sócio-diretor da Konsult Consultoria de RH de São Paulo, aponta que contratar um estrangeiro envolve preocupações diferentes da contratação de um profissional brasileiro. “Temos que prestar atenção no perfil de adaptabilidade do candidato e saber se a família quer vir, pois isso pode atrapalhar o processo”, aponta Hollo.

O consultor avalia que, para a contratação de um estrangeiro, os cuidados são maiores por conta de questões culturais. “Hoje existem várias empresas especializadas em aculturação, porque o estrangeiro tem que passar por isso. Mesmo na América Latina temos questões culturais bastante diferenciadas”, diz.

Alexandrine Brami, sócio-fundadora e presidente do Instituto de Estudos Franceses e Europeus de São Paulo (Ifesp), afirma que a entidade auxilia na adaptação de estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil. “Quando colocamos um estrangeiro no mercado, fazemos reuniões para acompanhar o processo de sociabilização e integração profissional, pois o trabalho aqui no Brasil é feito em um ritmo diferente. Alguns profissionais têm dificuldade para acompanhar o pique que o brasileiro tem”, avalia.

No Brasil desde 2001, a francesa Alexandrine aponta diferenças na realidade da vida profissional no País em relação a outros países. “Na França, por exemplo, a legislação limita o trabalho a 35 horas semanais. Aqui, são 44 horas e tem muita gente que acorda às 5h, pega dois ônibus, enfrenta uma demanda de trabalho muito grande e ainda estuda à noite”, aponta.

O alemão Rüdiger Leutz, consultor empresarial da Porsche Consulting Brasil, multinacional especializada em consultoria de processos, está no País há dois anos e meio e aponta três grandes dificuldades que enfrenta por aqui: o trânsito de São Paulo, a liberdade dos brasileiros referente à pontualidade e a burocracia no Brasil.

Mas ele avalia como positiva a sua estada no País. “A experiência de trabalhar com essa mistura de culturas agrega valor a qualquer pessoa, seja profissionalmente ou na vida particular”, diz. Leutz comenta que o Brasil é um país com muito potencial no futuro e que participar dessa fase de desenvolvimento traz muitos desafios. “Mas isso traz destaque para os estrangeiros que estão trabalhando aqui neste momento”, avalia.

Troca de moedas

Sem encontrar dificuldades com o câmbio de moedas, Leutz afirma que, ao contrário do que fazia logo após a sua chegada, não converte mais os preços de real para euro. A adaptação à moeda brasileira ocorreu de forma natural. “Quando eu cheguei, em 2008, a taxa de câmbio era absurda, mas agora o valor do real aumentou em relação ao euro”, comenta.

O francês Philippe Ayasse, há sete meses no Brasil, veio assumir a gerência do departamento da Horiba Scientific, empresa japonesa de equipamentos e reagentes para diagnósticos. Quando soube que viria para o País, o primeiro susto foi com custo de vida. “Quando comprei minha televisão, o preço era 30% maior do que na Europa, mesmo para os modelos mais antigos”, diz. Ayasse revela que ainda faz a conversão do real para o euro a cada compra feita. “Como ainda estou me adaptando ao Brasil, acredito que quando eu aprender bem o português, conseguirei pensar em reais”, aposta.

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