Doe dinheiro para nos ajudar!

quinta-feira, junho 09, 2011

Ex-F1, Bernoldi vê Brasil atrasado e falta de respeito no País


A etapa de Curitiba da Itaipava GT Brasil teve uma novidade de peso: a estreia de Enrique Bernoldi, piloto que correu na Fórmula 1 em 2002 e 2003, no volante de um Ford GT na categoria GTBR3. Em entrevista exclusiva ao Terra, o novo reforço da BMG Racing falou sobre os planos para a atual temporada, relembrou os êxitos e dificuldades passados na F1 e fez críticas ao desenvolvimento do automobilismo no Brasil.
Curitibano de nascimento, o próprio Bernoldi, 32 anos, admite que está mais acostumado às pistas do resto do mundo que às do Brasil - ele corre pela categoria GT1, cujas etapas acontecem em sua maioria no continente europeu. Quando vem ao País, porém, não sente que é respeitado da forma como merece.
"Aqui, a mentalidade do povo brasileiro é achando que o mundo gira em torno das categorias daqui do Brasil. Eu sou muito mais respeitado por ter sido piloto de Fórmula 1 correndo na Europa do que correndo aqui, infelizmente, mesmo eu sendo brasileiro", lamenta.
O piloto não vê com bons olhos o atual momento brasileiro no esporte. Na F1, por exemplo, Felipe Massa e Rubens Barrichello vêm fazendo temporadas bem abaixo da média. "Precisa ter um pouco mais de espaço na mídia. Por exemplo, eu corro na GT1, sou um piloto brasileiro que já correu na Fórmula 1, e nem na TV passa aqui no Brasil, ninguém nem sabe. Então, realmente o Brasil está um pouco atrás nisso", critica.
Sem somar pontos em seus dois anos como piloto de F1, Bernoldi também lamentou o fato de o sistema ter mudado logo após a saída dele: ao invés dos seis primeiros, os oito melhores passaram a pontuar. Atualmente, com os dez primeiros somando pontos, ele teria oito na carreira. Mesmo assim, o piloto lembra com carinho da passagem pela principal categoria do automobilismo mundial - principalmente de quando devolveu ao campeão Michael Schumacher uma ultrapassagem no GP da Malásia, em 2002.
"Quando você corre com uma Arrows, você não tem muita chance a não ser ganhar do companheiro de equipe. Mas talvez o mais legal tenha sido na Malásia, em 2002, quando o Schumacher vinha recuperando posição, ele me passou e eu consegui dar o troco nele", recorda.
Confira a entrevista na íntegra com Enrique Bernoldi:
Terra: Como foi o convite para correr em casa, na GT Brasil, e como será conciliar essa categoria com a GT1?
Enrique Bernoldi - Eu pretendo participar das corridas de GT3 quando não coincidir com a GT1. A GT1 é minha prioridade. Minha carreira sempre foi toda voltada para a Europa. Mas acho legal correr aqui (no Brasil), foi um convite que recebi do Boni (Paulo Bonifácio), que é meu companheiro de equipe. Está sendo legal correr em casa, mas, como pista, pode-se dizer que eu conheço muito mais as pistas da Europa do que do Brasil. Nasci em Curitiba e sou brasileiro, mas com certeza se você falar uma pista de Silverstone, Monza ou Jerez eu conheço muito mais do que uma daqui do Brasil. Não corri muitas vezes aqui.
Terra: Qual é a diferença entre um carro de GT1 e um carro da Itaipava GT Brasil?
Bernoldi - Não é uma diferença muito grande. Os carros devem ser, com as alimentações que eles estão, três, quatro segundos no máximo (mais lentos). O GT3 é um pouco mais lento e é um carro que tem mais recursos eletrônicos: ABS, motor de tração... o GT1 não, é um carro que não tem nada eletrônico a não ser a parte da telemetria. É um carro com mais potência também, com freio de carbono. Então é um pouco diferente, mas não muito.
Terra: Como você vê a evolução do automobilismo no Brasil?
Bernoldi - Acho que o Brasil teve no passado muitos pilotos bons. Teve Senna, que para mim foi o melhor de todos os tempos, ganhou vários títulos na Fórmula 1... e agora, infelizmente, não está assim a situação. Acho que o Brasil precisa desenvolver um pouco mais as categorias de automobilismo para tentar formar novos pilotos. Precisa ter um pouco mais de espaço na mídia também. Por exemplo, eu corro na GT1, sou um piloto brasileiro que já correu na Fórmula 1, e nem na TV passa aqui no Brasil, ninguém nem sabe. Então realmente o Brasil está um pouco atrás nisso. Tem muitos bons pilotos, mas muito pouco incentivo.
Terra: Quando você fala da passagem pela Fórmula 1, o que é mais marcante? Os bons momentos ou os ruins?
Bernoldi - Vou falar coisa boa, né? A Fórmula 1 foi o auge da minha carreira e é a categoria top do automobilismo mundial há mais de 50 anos. Então, por chegar à F1, me considero um privilegiado, por ter corrido lá dois anos e ter sido mais três anos piloto de testes. Então vamos falar de coisa boa.
Terra: Muitos se lembram da disputa com o David Coulthard, no GP de Mônaco em 2001, quando você o segurou por 35 voltas...
Bernoldi - A corrida de Mônaco, com certeza, foi uma corrida boa, legal, porque eu pude aparecer um pouco. Quando você corre com uma Arrows, você não tem muita chance a não ser ganhar do companheiro de equipe. Mas talvez o mais legal foi na Malásia, em 2002, quando o Schumacher vinha recuperando posição, ele me passou e eu consegui dar o troco nele. Acho que disputar com o Michael Schumacher, com ele em uma Ferrari, valeu mais do que disputar com o Coulthard em Mônaco.
Terra: E o que dizer sobre as dificuldades que você enfrentou na F1?
Bernoldi - Houve vários momentos que poderiam ter sido melhores. Acho que a Fórmula 1 na minha época era mais difícil. Apenas com os seis primeiros pontuando, ficava realmente difícil, com a diferença de carro que a gente tinha. Hoje em dia você pontua até o décimo, e logo depois do ano em que eu saí (2002) começou a pontuar até o oitavo. Mas valeu a pena, faria tudo de novo.
Terra: Por ter corrido na principal categoria do automobilismo mundial, você é mais respeitado aqui no Brasil?
Bernoldi - No Brasil, não acontece muito, não. Tenho muitos amigos aqui, mas o Brasil é um dos países que não te respeita pelo teu passado, pelo que você foi. Aqui, a mentalidade do povo brasileiro é achando que o mundo gira em torno das categorias daqui do Brasil. Eu sou muito mais respeitado por ter sido piloto de Fórmula 1 correndo na Europa do que correndo aqui, infelizmente, mesmo eu sendo brasileiro. O Brasil é muito imediatista, é muito fácil você ser herói e também é muito fácil você ser esquecido. Então, aqui, não vejo muito respeito sobre isso.
Terra: E o Sebastian Vettel, que está dominando a temporada atual da F1? Você acha que é o início de uma nova era de hegemonia de um piloto, como foi com o Schumacher?
Bernoldi - Ele está dominando, com certeza é um menino que tem muito talento, um privilegiado. Deus olhou bastante para ele na hora em que ele nasceu, deu muito talento para ele. Mas a F1 também tem muitos pilotos bons, e acho que conseguir ganhar sete títulos como o Schumacher... não sei. Na minha opinião, ele (Schumacher) pegou uma época um pouco mais fácil, correu com um carro muito superior e sendo favorecido.
Acho que o Vettel que vai ter uma vida mais dura que o Schumacher para ganhar sete campeonatos, porque ele tem uma competitividade maior, as equipes são mais parelhas hoje em dia. Mas com certeza ele vai ser um dos maiores pilotos de todos os tempos, isso ele já provou. Ele é o mais jovem campeão, ninguém na Fórmula 1 tinha ganhado antes um campeonato com 22 anos, então com certeza ele é um privilegiado nisso.


0 comentários:

Postar um comentário

Digite sua mensagem

Share

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More